domingo, 27 de fevereiro de 2011

Central de Artesanato do Ceará - CEART

Em 1921, quando o comerciante Plácido de Carvalho ergueu um castelo em plena Fortaleza para trazer da Itália sua amada Pierina, não imaginava o destino de sua declaração de amor: a filha Zaíra, que não chegou a habitar a majestosa construção, acabou por vendê-la na década de 1960 a um grupo comercial cuja intenção era erguer um supermercado. A demolição foi feita, mas o empreendimento, jamais. Endividado, esse grupo entregou o terreno ao Estado. Em 1979, a primeira-dama Luíza Távora aproveitou o local para construir a Central de Artesanato do Ceará, a Ceart.


No último dia 14, a praça foi reinaugurada. Passou por uma recauchutagem geral, ganhou fonte interativa, música clássica ambiente, café dentro do vagão que ali repousa e muitos novos frequentadores. “O artesanato cearense tem agora um lugar extremamente agradável para sua comercialização. Com a reinauguração, nós ganhamos muito em vendas”, conta Amanaci Diógenes, a coordenadora de desenvolvimento do artesanato e economia solidária.


Na Ceart, artesão e loja trabalham com a filosofia do mercado justo. “A Ceart não visa lucro. A gente paga o preço justo para o artesão e agrega à peça os custos de comercialização, de embalagem. A estrutura é mantida pelo Governo do Estado. O recurso da venda vai para o Fundo Estadual para Desenvolvimento do Artesanato, que paga a peça que a gente compra do artesão. É como um capital de giro das sete lojas do Estado”, explica.


Engana-se quem acha que o trabalho da Central é voltado para o turista. Uma das bandeiras da Ceart é a divulgação do artesanato cearense entre os próprios cearenses. “A gente mudou o conceito de comercialização para fazer o cearense entender que pode usar o artesanato na casa dele, não só na varanda da casa de praia. Ele tem valor e vai deixar sua casa e o seu escritório com muito mais requinte”. Hoje são 16 ambientes montados na Ceart da praça Luíza Távora.


Mas, afinal, qual o grande diferencial do artesanato da Ceart? Amanaci explica: “Existe uma diferença entre artesanato e trabalho manual. Nós trabalhamos com foco no viés cultural, aquele que retrata nossas tradições, que as pessoas se veem nele. Isso eleva o valor agregado do produto. A gente analisa também a qualidade do produto, se ele é inovador. Não existem marchands para o artesanato, existem curadores. Do nosso ponto de vista, quanto mais tradicional e cultural for essa peça, mais valor ela tem”. Aí é você que escolhe: que tal uma boneca de barro, toda colorida, por R$ 12,90, ou uma linda escultura de arte popular em madeira por mais de R$ 400? “Artesanato é arte. É arte e é cultura, geração de trabalho e renda, valorização das nossas tradições, uma soma de tudo isso”, finaliza.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Exposição de Mário Teles, filho de GTO


Quem está expondo esculturas em BH é Mário Teles, de 68 anos. Filho e assistente do escultor G.T.O (1913-1990), um dos mais importantes artistas mineiros, ele aprendeu o ofício em família. A mostra reúne 10 peças criadas entre 2010 e 2011: são guardas de congado, rodas de músicos, pirâmides humanas, índios e pau de sebo. Mário Teles explica que seu trabalho é pessoal. Ricas em detalhes, as imagens “vêm do pensamento”, diz. As posições das figuras, faces e expressões são únicas: “Não repito trabalhos. Quando começo a fazer uma peça, sei o que quero”. Se o trabalho do pai, “até pela idade avançada”, era mais “rústico e primitivo”, o dele é “mais elaborado e certinho”. Como G.T.O, Mário Teles deixa aparente o rastro do formão. “Tenho orgulho de seguir o caminho dele”, afirma, elogiando a criatividade e a força da arte do pai. “Em qualquer lugar, esse trabalho chama a atenção”, frisa. A dedicação à cultura popular tem explicação: “Minas Gerais é muito rica nesse setor e sou mineiro da gema”, conta o artista. Terapia “Na minha idade, fazer arte também é terapia. Trabalhando, esqueço de tudo”, revela Mário, que gosta de pescar e de futebol, assim como G.T.O. O ingresso na atividade artística foi favorecido pela facilidade para o desenho, além do gosto por artesanato, folclore e circo. O que Mário via no cotidiano reproduzia em casa, usando folhas de papel. Motivo de satisfação: as palestras que faz nas escolas de Divinópolis, onde mora e trabalha, e o contato com o público nas exposições. A tradição passou de geração para geração. O assistente de Mário é o filho, Alex, de 36 anos. Além de “vazar” as esculturas para o pai, ele cuida de outro projeto ambicioso: o Museu G.T.O, instalado no ateliê da família. Lá fica o pequeno acervo de obras, objetos pessoais e ferramentas de trabalho. O avô, conta Alex Teles, gostava mesmo é de esculpir ao ar livre, sob um pé de jabuticaba. O projeto é criar o Instituto G. T. O: o ateliê seria transformado em centro cultural e abrigaria oficinas, exposições e biblioteca. Em 1981, o espaço surgiu diante da necessidade de um endereço para receber turistas que iam a Divinópolis conhecer o artista mineiro. O neto conseguiu verba para algumas reformas, como a restauração da fachada e a construção de banheiros e da sala de exposição. “Isso representa valorização do patrimônio histórico e da cultura da cidade”, explica Alex. A previsão é de que a primeira etapa da empreitada fique pronta até junho, quando se comemora o aniversário de Divinópolis. O Museu G.T.O funciona na Rua Rubi, 283, Bairro Niterói. Está aberto de segunda-feira a sábado, das 8h às 17h.

Mário Teles Escultura. Galeria de Artes do Sesc/MG, Rua Tupinambás, 956, 1º andar, Centro. De segunda a sexta-feira, das 12h30 às 18h. Informações: (31)3279-1462. Até 18 de março. Entrada franca.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"Rabecas: Luteria e Performance"


O corpo é áspero, com formato semelhante ao de um violino, a rabeca é um instrumento que reverbera sonoridades agudas. Poesia viva e rústica. Dela parece entoar uma espécie de choro, ao deslizar das mãos daqueles que a tocam cheios de paixão. Preenchendo com seu pranto arranhado corações, saudades e lugares a ermo.



Segundo alguns estudos, o instrumento teria existido em todas as grandes civilizações da Ásia e da África. Chegando a Europa, durante a dominação dos mouros, onde se tornaria bastante apreciada nas mãos dos menestréis medievais. No Brasil, o interior cearense é rico nessa tradição. Fato devidamente comprovado pelo professor e pesquisador Gilmar de Carvalho, e o fotógrafo Francisco Sousa.

"Encontrei em meus estudos referências a um instrumento persa, chamado kamantchê. A rabeca está diluída nos instrumentos de corda da Europa. Não é apenas um violino tosco, como pretendem alguns. O luthier (especialista na fabricação e no conserto do instrumento), Totonho de Mauriti, deu uma definição instigante: ´a rabeca é chorona´. Cada um viaja nas possibilidades desse ´choro´ e se delicia com o improviso das quatro cordas, em pleno sertão", explica Gilmar de Carvalho sobre a origem do instrumento.

A exposição

O pesquisador e o fotógrafo Francisco Sousa começaram em 2003, uma jornada sertão adentro, coletando imagens, histórias e sons de rabeca. A empreitada, que já rendeu o livro "Rabecas do Ceará", acompanhado de um CD com preciosos registros sonoros, dialoga com a exposição "Rabecas: Luteria e Performance", que será aberta amanhã, às 17 horas, no Espaço Cultural Correios.

Com curadoria de Carvalho e fotos de Sousa, o projeto foi contemplado pelo edital do Espaço Cultural Correios, desvendando o mundo sagrado da tradição, da construção do instrumento à performance. "Nunca os meios técnicos foram tão úteis para uma expressão de visão de mundo, de vida, de uma escrita etnográfica. A exposição traz de volta à cena os rabequeiros, luthiers. Algumas rabecas serão mostradas, seus sons serão ouvidos, imagens em movimento estarão sendo exibidas. Tudo com a marca do trabalho insano que o Francisco Sousa vem fazendo pelo Ceará, desde 2003", diz o curador.

Pelo olhar e a sensibilidade de Francisco Sousa, podemos captar o modo de fazer, de tocar, as experiências de vida, as expressões, a madeira que se transforma, as mãos sempre calejadas ou feridas dos músicos-artesãos que fazem e executam o seu próprio instrumento.

Sobre o processo curatorial, Gilmar de Carvalho conta que, depois do livro impresso, ele descobriu mais rabequeiros. "É como se esse pessoal e esse material estivesse em camadas da memória que precisam ser revolvidas. Um trabalho de arqueologia, que revela surpresas e mexe com o acaso", explica.

Traçar o recorte frente à riqueza da pesquisa não foi tarefa fácil. "Fazer um recorte que levasse em conta a valorização das fotografias do Francisco Sousa (o instante epifânico do ato fotográfico), a inserção das rabecas na cultura, o contexto cearense, as histórias de vida, a luteria improvisada, a questão da memória foi sofrido. O diálogo com o Francisco foi constante. E deve prevalecer, mais que um didatismo, uma visão de equilíbrio e harmonia, o que não é fácil quando se tem tanto material", acrescenta.

O trabalho de Sousa "emociona como registro de uma manifestação cultural que se transforma para permanecer". A exposição nos transporta às imagens comoventes da "luteria". Em cumplicidade com a natureza, os rabequeiros utilizam o material ao seu alcance: talos de carnaúba, canos de PVC, madeiras como pinho e umburana.

"Vou para os extremos: a rabeca de lata, encontrada em São Benedito, que pertenceu a Luiz Costa e a rabeca de PVC e madeira, "fabricada" por Chico Barbeiro em Baixio. Parecem-me representativas da diversidade dos materiais e técnicas, do desejo de fazer música e de interferir na cultura. O visitante vai se deparar com rabequeiros e luthier oriundos dos Inhamuns a Ibiapaba, do Cariri ao Sertão do Canindé, do Vale do Jaguaribe ao Sertão Central, embalados aos sons que preenchem o oco do mundo", ressalta o pesquisador.

Fique por dentro
Rabecas do Ceará

Conforme Gilmar de Carvalho, as rabecas sempre ficaram de fora dos estudos sobre cultura cearense. A exceção ficava por conta do Cego Oliveira, gravado e filmado pelo Rosemberg Cariry. Mesmo as menções ao toque de rabeca do Cego Aderaldo eram marcadas pela incompletude. "A ideia de ´perseguir´ rabequeiros veio do Francisco Sousa. Em meio às viagens que fazemos, fomos acumulando material e veio o livro ´Rabecas do Ceará´ (edição de 2006, lançada pela Expressão Gráfica)".

Os primeiros entrevistados e fotografados foram o Zé Oliveira (Juazeiro do Norte) e o Raimundo Veríssimo (Itapipoca), ambos falecidos em 2010. Depois, veio o Mestre Vino (Irauçuba), o Antonio Hortêncio (Varjota) e o interesse dos dois foi se acentuando. Em março deste ano, nos dias 18, 19 e 20, haverá o I Encontro dos Mestres da Rabeca e a nova geração de rabequeiros do Ceará, no Sesc Senac Iracema. Na programação haverá o relançamento do livro de Gilmar de Carvalho.

MAIS INFORMAÇÕES

Exposição "Rabecas: Luteria e Performance", de Francisco Sousa, com curadoria de Gilmar de Carvalho. Abertura amanhã, às 17 horas, no Espaço Cultural Correios (Rua Senador Alencar, 38, Centro). A mostra segue em cartaz até 26 de março. Visitas de segunda a sexta, das 8h às 17h. Aos sábados, das 8h às 12h. Entrada gratuita. Contatos: (85) 3255.7260.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Jornada de Estudos Poéticas da Oralidade


Prosseguiram os debates na Jornada de Estudos Poéticas da Oralidade, promovida pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB.
Duas mesas foram realizadas na tarde de hoje.
A primeira: "Como transformar um tesouro em patrimônio" discutiu as possibilidades de acesso e difusão do acervo da Biblioteca Átila Almeida. Com a compra da coleção do professor Gilmar de Carvalho, o acervo da UEPB passou a ter cerca de 15.000 folhetos e foram apresentados resultados das ações para conservação e difusão do acervo.

A segunda mesa "O universo dos cordelistas, cantadores e editores" discutiu aspectos da oralidade e da escritura do cordel, almanaques e cantoria na contemporaneidade.

De novo: Resultado Edital Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré

O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Articulação Institucional, divulga o resultado dos recursos interpostos referentes à fase de Avaliação e Seleção do Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré, conforme publicação no DOU nº 26, de 7 de fevereiro de 2011, seção 3, pag. 10.

O edital teve 54 recursos, dos quais 51 foram indeferidos e apenas 3 deferidos. No entanto, o resultado do recursos deferidos não alterou a ordem de colocação dos proponentes classificados dentro da cota de premiação, conforme lista publicada no DOU nº 244, de 22 de dezembro de 2010, seção 3, pag. 42.

Veja aqui

Edital Programa Cultural das Empresas Eletrobras 2011

Estão abertas as inscrições para o Programa Cultural das Empresas Eletrobras 2011, que vai apoiar projetos de todo o país em três segmentos: teatro (produção de espetáculos e festivais de teatro), audiovisual (longa-metragem e festivais de cinema) e patrimônio imaterial (difusão de manifestações culturais tradicionais). A novidade desta edição do programa é a inclusão de peças teatrais infanto-juvenis, ao lado do teatro adulto, entre as áreas patrocinadas.

As inscrições foram prorrogadas até o dia 13 de abril e devem ser realizadas em www.eletrobras.com/editalcultural. Nesse endereço, você também encontra informações sobre o processo de seleção e acessa o edital e o roteiro para elaboração de projetos (Manual do Proponente) do Programa Cultural das Empresas Eletrobras 2011.

Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular apresenta exposição Senhores da Terra

“Poéticas da oralidade: reinvenção e reescrituras”

Um evento que tem como objetivo trazer à tona a discussão sobre a cultura popular, muitas vezes deixada de lado pela academia e até pela própria sociedade, teve início hoje (07) pela manhã, no Centro de Arte e Cultura da UEPB, em Campina Grande. “Poéticas da oralidade: reinvenção e reescrituras” é o tema da 1ª Jornada de Estudo Internacional sobre Poéticas da Oralidade que a Universidade Estadual da Paraíba realiza até amanhã. A abertura contou com a participação do professor Rangel Junior e a conferência de abertura foi ministrada pela convidada Ria Lemaire.

poet3A organizadora do evento, professora Joseilda Diniz, lotada na UEPB através da Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP), proferiu as palavras iniciais do evento, reforçando justamente o objetivo de trazer a discussão de um tema muitas vezes obscurecido. Em seguida, chamou à mesa o pró-reitor de Planejamento da UEPB, Rangel Junior, na ocasião, representando a reitora Marlene Alves. O professor comentou a presença de alguns artistas da terra, em especial da teatróloga Lourdes Ramalho, escritora conhecida de literatura e teatro popular que inclusive dá nome a um teatro em Campina Grande.

Rangel Junior também reforçou o caráter de cultura popular desta Jornada. “Vamos discutir a tradição da cultura popular, mas não somente. Temos a idéia de que tradição deve ser tratada como algo congelado no tempo. Creio que a tradição pode ser também renovada e atualizada, e aspectos deste evento confirmam isso, a começar pelo cartaz, pelas discussões, pelos convidados”, disse o professor. Ele acrescentou que a UEPB reforça seu caráter de contribuir com a cultura, através da socialização desta, e o faz através de eventos como esse, com a aquisição de um acervo como o que hoje forma a Biblioteca Átila Almeida e a construção do futuro museu do Artista Popular, às margens do Açude Velho, cartão postal da Serra da Borborema.

Ria Lemaire

poet2Antes do início da conferência, a professora Joseilda Diniz teceu algumas palavras sobre sua experiência com a professora Ria e a importância desta em sua carreira de pesquisadora. “Tive o privilégio de trabalhar com Ria Lemaire por 10 anos e por causa dela, fui empurrada, literalmente a revisitar minhas raízes. Ao chegar à França, pensei em fazer um trabalho em francês e vi que num lugar distante e estrangeiro, era muito mais valorizada a produção popular do que aqui em nossa terra”, relatou Joseilda.

Assim começou a parceria que resulta nesta visita da professora da Universidade de Poitiers-França, Ria Lemaire, hoje, em Campina Grande. Porém, a história desta pesquisadora com a cidade é antiga. “Para mim, é um prazer voltar aqui, uma vez que foi a primeira cidade brasileira a qual eu conheci melhor, ainda na década de 1970, trazida por um colega de origem holandesa que morava em Recife. Quando cheguei aqui, comi a famosa carne de sol, que até hoje é um dos meus pratos favoritos no Brasil”, comentou despojadamente. Suas vindas para esses lados não acabarão neste evento. No momento, ela escreve um livro com Lourdes Ramalho que deverá ser lançado em agosto deste ano. Até lá, outros encontros de pesquisa deverão surgir e o lançamento está previsto também na cidade.

Em sua fala, Ria Lemaire discorre sobre a cultura popular, especialmente no Brasil, que tem o propósito de que ensinamentos sobre seu próprio povo, sua gente, sua terra, sirvam a gerações futuras. “Com o passar do tempo, se percebeu que cultura popular não é coisa de gente pobre, da classe baixa. O sentido tradicional da palavra povo designava civilização, que por sua vez representava conhecimento. Com o tempo, esse sentido foi se perdendo e só no século XX, tentamos resgatar esse sentido original”.

poet5“Poetas como o paraibano José Alves Sobrinho usavam a palavra povo em seu sentido primeiro, de comunidade”, disse Ria, acrescentando que aqui mesmo, em Campina Grande, possuímos um espaço magnífico para a pesquisa popular: a Biblioteca Átila Almeida, da UEPB. Espaço que abriga o acervo do professor Átila Almeida, que já tinha uma parceria com o poeta José Alves.

Parecendo bastante atualizada, Ria Lemaire falou, ainda, da nova aquisição da Biblioteca, que foi o acervo de cordéis do professor Gilmar de Carvalho. “A pesquisa de Gilmar tem um caráter especial, pois foi baseada no diálogo com os poetas e é algo que vale a pena conferir”, disse a pesquisadora.

Demonstrando que até as grandes pesquisas e instituições reconhecem a importância de tal fato, em 1997, a UNESCO (sigla em inglês para Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) criou a distinção Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, com o objetivo de reconhecer e preservar patrimônios, como o nome já diz, não-materiais, mas nem por isso, não menos importantes. A primeira lista de bens inscritos foi divulgada em 2001.

O Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, também chamado Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade, é uma honraria para a proteção e o reconhecimento do patrimônio cultural imaterial, abrangendo as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras. São exemplos de patrimônio imaterial: os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições.

poet4Ria Lemaire terminou sua conferência de abertura falando que a pesquisa em cultura popular está em processo, tentando encontrar seu paradigma. “Pesquisa exige método, que exige teoria, que exige fundamento. E esta prática está acostumada com outra formatação científica. O método de estudo com cordel, cantorias, entre outros, exige a observação de aspectos outros, que estamos em processo de construir. É um novo paradigma que estamos tentando desenvolver”, afirmou.

A manhã terminou com a mesa redonda “O universo de Lordes Ramalho”, com a participação da própria teatróloga, com mediação da primeira conferencista, Ria Lemaire, ambas parceiras em um livro, como já dito, a ser lançado ainda este ano. Entre os intervalos, podiam ser adquiridos diversos cordéis, expostos no hall, além da exposição de cordéis no jardim do Centro de Arte e Cultura da UEPB, que fica no Centro da cidade, ao lado do terminal de Integração. A tarde seguiu com um diálogo franco-ibero-brasileiro, numa mesa redonda com participantes de diferentes partes do mundo, mediado pelo professor Rangel Junior. A 1ª Jornada de Estudo Internacional sobre Poéticas da Oralidade segue até amanhã.


I Feira de Literatura de Cordel do Sertão

Dia 25 de março/2011
No Museu do Cangaço - Serra Talhada/PE.

19h30min – Apresentação do Grupo de Xaxado Cabras de Lampião
20h00min: Recital com os poetas:

      ü Chico Pedrosa
      ü Dedé Monteiro
      ü Edgar Diniz
      ü Felipe Júnior
      ü Caio Menezes
      ü Dudu Morais
      ü Dulce Lima
      ü Genildo Santana
      ü Adeval Soares
      ü Neide Nascimento
      ü Paulo Moura
      ü Gilberto Mariano
      ü Rui Grude
      ü Damião Enésio e Zé Pereira

Patrocinio :
Programa BNB de Cultura 2011
BNDES/Governo Federal

Apoio:
UBE/PE – NEC – Núcleo de Estudos do Cangaço
Academia Serratalhadense de Letras
Unicordel
Ponto de Cultura APDTA
SEBRAE


Realização:
PONTO DE CULTURA CABRAS DE LAMPIÃO

--
FUNDAÇÃO CULTURAL CABRAS DE LAMPIÃO
Rua Virgolino Ferreira da Silva, 06 - COHAB
Serra Talhada - Pernambuco - CEP: 56.909-110
Tel: (87) 3831 3860 / 3831 2041 / 9918 5533 / 9938 6035
E-mail:
cabrasdelampiao@gmail.com
Site:
www.cabrasdelampiao.com.br

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Psicanalista Maíra Soares Ferreira recebe Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel com pesquisa sobre heranças culturais em SP

Tal como ocorre em muitas escolas do ensino fundamental e médio no Brasil, às vésperas do Dia do Índio – celebrado em 19 de abril – os alunos de um colégio público situado na favela Real Parque, no bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo, costumam preparar cartazes alusivos à data comemorativa que são espalhados pelas salas de aula.

Mas, ao observar os desenhos e imagens que ilustram os trabalhos escolares durante seu trabalho de mestrado, defendido em agosto de 2010 na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a psicanalista Maíra Soares Ferreira não encontrou nenhuma referência à etnia afro-indígena Pankararu, originária do sertão pernambucano, da qual muitos dos estudantes no colégio são descendentes.

Na tentativa de estabelecer um diálogo entre o passado e o presente dos estudantes e de integrar sua cultura com a da escola, Maíra iniciou em 2007 uma pesquisa e intervenção com uma turma de 30 alunos da sétima série do colégio público paulista. O estudo resultou em um método de ensino da cultura e história afro-indígena que pode auxiliar os educadores a abordar esse assunto em sala de aula, conforme determina uma nova lei.

Sancionada em março de 2008, a Lei nº 11.465/08 tornou obrigatório o ensino sobre a história e a cultura afro-indígena em todos os estabelecimentos de ensino fundamental e médio, das redes pública e particular, no país. Mas deixou a cargo dos educadores desenvolverem suas próprias metodologias de ensino para isso.

“A lei é muito importante. Porém, é preciso utilizar métodos didáticos que partam da própria história da comunidade onde a escola está inserida para ensinar a história e a cultura afro-indígena. Afinal, toda escola pública no Brasil tem sua comunidade afro-indígena”, disse Maíra.

Retorno às origens

Sabendo das origens dos estudantes da escola da favela Real Parque, a psicanalista viajou para a região do Brejo dos Padres, em Pernambuco, onde está localizada a aldeia indígena Pankararu, e de onde grande parte das famílias dos estudantes partiu no início da década de 1950 rumo a São Paulo para trabalhar em obras como a construção do estádio do Morumbi.

No sertão nordestino, além das tradições dos Pankararu, Maíra deparou com diversas manifestações da cultura popular, como o cordel, a cantoria de viola e o coco de embolada, que registrou em vídeo.

Na volta da viagem, Maíra apresentou os vídeos aos estudantes e chamou a atenção deles para as semelhanças entre as rimas, improvisos e a poesia do cordel e dos repentes nordestinos com um gênero musical que a maioria deles apreciava: o rap.

“Eu percebi que nos intervalos e nas aulas vagas eles se reuniam em grupos e ficavam escutando rap, desenhando ou fazendo letras de música”, disse.

Com base nisso, ela encontrou um canal para que os professores pudessem discutir de uma maneira didática com os estudantes questões como a migração, o sertão, a urbanização, a escravidão e a formação de favelas nas grandes metrópoles brasileiras.

De acordo com Maíra, as criações poéticas e musicais representaram o esforço dos estudantes de resistir à negação de origens e identidades e um meio de recombinar suas histórias e expressões culturais. E, com isso, se afirmarem política, social e etnicamente.

O trabalho, que contou com apoio da FAPESP, foi distinguido na categoria de pesquisa no Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré, lançado pelo Ministério da Cultura (Minc) em março de 2010 para incentivar a realização de trabalhos relacionados à literatura de cordel.

O estudo está disponível no Banco de Teses da USP, emwww.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-30082010-102212/pt-br.php

Elton Alisson
Agência FAPESP

Cheias, o avesso das secas. Gilmar de Carvalho lança um olhar, a partir do cordel, sobre o registro das enchentes

Se a água é fundamental para o homem, ela consegue ser mais crucial ainda para o Ceará. Pode parecer absurdo, mas faz muito sentido. Muito antes da queima da camada de ozônio, do aquecimento global e da antecipação do apocalipse (muitos insistem em 2012), nós cearenses, sempre soubemos da importância de uma gota de água que fosse.

Não foi à toa que ganhamos, desde o início da colonização portuguesa, o estigma de sermos o grande areal entre o fértil Maranhão e o Pernambuco das bem sucedidas plantações de cana-de-açúcar.


A crônica das secas se antecipa e inclui registros (da tradição oral) de um tempo anterior à chegada dos lusitanos. É como se fosse um destino. Convivemos com a escassez e com o excesso como se fossem as duas faces da mesma e perversa moeda. Essa dicotomia leva à hipérbole e dá margem a construções simbólicas que dizem do nosso esforço em lançar as bases de uma civilização cearense.


Se avaliarmos bem, o registro das enchentes é menor e menos dramático que o das secas. Estas últimas geraram a ideia de Nordeste com pires na mão, fizeram eclodir o chamado romance social, e foram responsáveis por boa parte da cristalização de estereótipos contra os quais lutamos, bravamente, ainda hoje.


Secas e enchentes se alternam como encenações de nosso barroco existencial. É a natureza levada às últimas consequências. Temos uma crônica das cheias, que passa pelo cordel, pela música popular, e pelos relatos cotidianos. Em Aracati, encontramos marcas do ponto que as águas atingiram, em cheias que bateram recordes, como as de 1974, 1985, 2004, sem deixar de falar no “arrombamento” do Orós, em 1960, marcado pela entrada em cena da mídia radiofônica, com a fala tonitruante da Rádio Dragão do Mar, política e sensacionalista, ao mesmo tempo. A inauguração do açude Orós e, posteriormente, a do Castanhão, levaram ao fim de um ciclo anunciado de água inundando o Baixo Jaguaribe.


Ao levar para o cordel as cheias de 1947, o poeta João de Cristo Rei (1900 / 1983) joga o foco de sua narração para a cidade de Lavras da Mangabeira (CE): “Dizem que em Lavras morreu / O filho dum homem incréu / E quando foi se enterrar / o pai com a cara de réu / Na mão do anjo botou / Um cruzado e mandou / Comprar de chuva no céu”.


O poeta Moisés Matias de Moura (1891 / 1976), que viveu e atuou em Fortaleza, trata da “inudação” (sic) do dia 5 de maio de 1949: “Como agora em Fortaleza / Ficaram dessombriadas / 150 famílias / Na chuva desabrigadas / Que pelo nosso governo / Foram depois amparadas”. Mas a tragédia

é mais forte: “Muitas crianças morreram / Por debaixo das paredes/ Quando as mães iam buscar / Achavam frias nas redes / Os pretinhos estavam brancos / E os brancos estavam verdes”.


O arrombamento do Orós (1960) é visto como castigo divino pelo poeta Cristo Rei, radicado em Juazeiro do Norte: “Deus disse que quando os homens / sem fé, sem religião/ de seus mistérios divinos / fizessem profanação/ ele mandava castigo / terremoto e confusão”. O poeta fala do povo “fazendo enxame nas ruas”, introduz aviões “fornecendo alimentos” e cria um clima dramático que se aproxima do que foi alardeado pela mídia (impressa e eletrônica) da época. Ele diz: “Foi visto sob os pináculos/ dos escabrosos rochedos/ cinquenta crianças mortas/ nos mais tremendos degredos/ sobre os braços maternais / nas sombras dos arvoredos”.


Com senso de oportunidade e cantando o que aflige o público leitor, Manoel Caboclo (1916/ 1996) fez o relato das enchentes de 1974: “As chuvas caíram forte/ quase em toda a região/ as cidades sufocadas / na grande inundação / as águas levando tudo / gente, casa e plantação”.


Patativa fez a letra de Seca dágua, convocado por um grupo de artistas, como forma de vender discos e arrecadar fundos para as vítimas das enchentes de 1985: “É triste para o Nordeste / o que a natureza fez / mandou cinco anos de seca/ uma chuva em cada mês / e agora em 85 / mandou tudo de uma vez”. E cantava no refrão: “A sorte do nordestino / é mesmo de fazer dó/ seca sem chuva é ruim/ mas seca dágua é pior”.


Mudamos a forma da comoção e da mobilização hoje em dia. Aprendemos a dura lição da convivência com a escassez da água. Em relação às enchentes, tudo se resolve com a força das imagens, com a abertura de uma conta bancária para os depósitos em favor das populações atingidas, e com a expectativa de uma tragédia maior, nos anos seguintes.


Mesmo com o risco das enchentes, profetas ainda tentam ler os sinais da natureza, gente crédula ainda coloca as pedras de sal ao relento, dia 12 de dezembro, véspera da festa de Santa Luzia. As pedras que derreterem durante a madrugada sinalizarão os meses chuvosos. Alguns pássaros prevêem a seca e são agourentos (acauã). Na verdade, ainda não perdemos a possibilidade do sonho, é o que importa e sabemos reconstruir (ainda) o pouco que temos ou que resta, tanto quanto está feio, quando está “bonito pra chover”.


Gilmar de Carvalho é jornalista e advogado. Possui mestrado em Comunicação Social, pela Universidade Metodista de São Paulo (1991). É doutor em Comunicação e Semiótica, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1998) e professor aposentado do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Simpósio Internacional Poéticas da Oralidade reinvenção e reescrituras

“Poéticas da oralidade: reinvenção e reescrituras” é o tema da 1ª Jornada de Estudo Internacional sobre Poéticas da Oralidade que a Universidade Estadual da Paraíba realizará a partir desta segunda-feira (07). O evento, que prossegue até o dia seguinte (08), terá convidados do Brasil e de outros países e abordará especialmente a literatura de cordel e poesia oral, buscando ampliar a compreensão dessas poéticas da oralidade no que concerne à sua função social, sua especificidade literária e as incursões delas no livro impresso. As atividades serão sediadas no Centro de Arte e Cultura da UEPB, localizado no Centro de Campina Grande, ao lado do Terminal de Integração.
A 1ª Jornada de Estudo Internacional sobre Poéticas da Oralidade também propõe um espaço de discussão sobre esses novos suportes e linguagens de que dispõem hoje a literatura de cordel, o teatro popular e outras poéticas. Nesse contexto, destaca-se um exemplo local e recente com relação ao suporte do cordel em livro. É que em 2010, o músico, cordelista e rabequeiro radicado na Paraíba, Beto Brito, lançou o denominado “maior cordel do mundo”: “Bazófias”.
Na segunda-feira, a abertura da Jornada se dará a partir das 9h, no Auditório do Centro de Arte, com a conferência da professora Ria Lemaire. A holandesa Ria Lemaire é professora emérita e diretora da equipe brasileira do Centre de Recherches Latino-Americaines da Universidade de Poitiers, França. É especialista em literatura medieval em línguas românicas e de literatura brasileira dos séculos XIX e XX. Durante os dois dias do evento, ocorrerão mesas-redondas, no período das 9 às 18h30.
A jornada acontece graças a uma parceria efetuada entre a Pró-reitoria de Pós-graduação, a professora Joseilda de Sousa Diniz, a equipe do acervo Átila Almeida e a equipe da assessoria dos museus da UEPB. Joseilda está atuando na UEPB como professora visitante. É doutora pela Université de Poitiers, sob a orientação da professora Ria Lemaire. Graduou-se em Língua Moderna Francesa pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, língua e literatura francesas. Em dezembro de 2010, recebeu do Ministério da Cultura (Minc), o Edital-Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel na categoria Pesquisa, com a tese intitulada “José Alves Sobrinho: un poète entre deux mondes/José Alves Sobrinho: um poeta entre dois mundos”.




Rabecas: luteria e performance. Exposição de fotografias de Francisco Sousa

Uma jornada sertão adentro, registrando imagens, histórias e sons da tradição que atravessam os séculos e resistem na contemporaneidade, graças aos mestres, que constroem e tocam seu instrumento, a rabeca. Essa foi a trilha – percorrida e ouvida desde 2003 – pelo fotógrafo Francisco Sousa e o curador Gilmar de Carvalho, que deu origem à exposição “Rabecas: Luteria e Performance”, com abertura no dia 10 de fevereiro, quinta-feira, às 17 horas, no Espaço Cultural Correios de Fortaleza, na Rua Senador Alencar, Centro.

A minuciosa pesquisa já rendeu o belo livro “Rabecas do Ceará” (Expressão Gráfica, Fortaleza, CE), publicado juntamente com um CD, uma verdadeira bíblia desta manifestação popular, pela abrangência e rigor dos mais de 100 registros.

Das páginas do livro para a galeria, o projeto contemplado pelo Edital dos Correios, poderá ser apreciado pelo público até o dia 26 de março. As imagens revelam o mundo sagrado da tradição. Da construção do instrumento à execução, a performance.

Francisco Sousa desvenda esse ícone do nordeste com respeito e amor. Ele registrou tudo: o modo de fazer, de tocar, as histórias de vida, os gestos, a madeira que se transforma, as mãos sempre calejadas de quem faz e executa.

Há desde a rabeca mais conhecida – que se assemelha ao formato do violino – aos instrumentos construídos com a criatividade do luthier, que lembram um alaúde, em cores inusitadas, como o azul (foto que ilustra o convite e catálogo da exposição).

Como diz Gilmar de Carvalho na apresentação da mostra, o trabalho de Francisco Sousa “emociona como registro de uma manifestação cultural que se transforma para permanecer”. A exposição nos transporta às imagens comoventes da “luteria” destes músicos-artesãos. Como explica o curador, “não há uma receita para se fazer uma rabeca”. Em cumplicidade com a natureza, os rabequeiros “fazem um dueto com os pássaros, com a água flui e com o vento que sopra”, utilizando o material que está ao seu alcance – talos de carnaúba, latas, canos de PVC, madeiras como pinho e umburana.

Animando as festas e “subvertendo o cotidiano do trabalho”, na observação de Gilmar, os rabequeiros, redescobertos pelo público mais jovem e informado, a partir de sua apropriação pela música pop brasileira nos últimos anos, seguem entoando valsas, marchas, xotes, baião e rock and roll.

O visitante vai se deparar com rabequeiros e luthiers oriundos dos Inhamuns a Ibiapaba, do Cariri ao Sertão do Canindé, do Vale do Jaguaribe ao Sertão Central, embalados aos sons que “preenchem o oco do mundo”.

Sobre o fotografo

Francisco Sousa nasceu em Santarém (PA), em 1973, e vive em Fortaleza, desde 1999. Fez curso de Guia de Turismo Regional e Nacional no SENAC. Cursou Filosofia no ITEP. Começou a fotografar em 2002 e tem fotos publicadas por vários jornais e revistas. Expôs individualmente no Museu do Ceará (2004 a 2006) e na Caixa Cultural (São Paulo), em 2008. Co-autor (com Gilmar de Carvalho) dos livros: “Artes da Tradição” (2005); “Pequenas Horas” (2005); “Mestres da Cultura Tradicional Popular do Ceará”, (2006) e “Rabecas do Ceará”, (2006). Ministrou oficina de fotografia digital em oito escolas públicas do Estado, com o projeto “150 anos da Comissão Científica de Exploração”, que ganhou edital da Secult e exposição no Museu do Ceará, em 2010. Tem no prelo o livro “Ceará Escrito à Luz”, Prêmio J. Ribeiro, da Secult, para livros de fotografia e arte.

Sobre o curador

Gilmar de Carvalho nasceu em Sobral (CE), em 1949. Jornalista, formado pelo Curso de Comunicação da UFC, em 1972. Publicou livros de ficção e teve quatro textos teatrais montados pelo Grupo Balaio. Ingressou no magistério superior em 1984, na UFC, aposentando-se em 2010. Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (1991) e Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC- São Paulo (1998). Ganhou os prêmios Érico Vanucci Mendes (CNPq) e Sílvio Romero (Funarte), em 1999. Tem muitos livros publicados e artigos em revistas acadêmicas do Brasil e do exterior. Seu campo de interesse é o das relações entre a Comunicação e a Cultura.

Serviço

Exposição: Rabecas: Leteria e Performance – Fotos Francisco Sousa

Curadoria: Gilmar de Carvalho

Onde

Espaço Cultural Correios, Rua Senador Alencar, 38 – Centro – Fortaleza – CE

Tel: (85) 3255 7260

Quando

De 10 de fevereiro a 26 de março de 2011

De segunda a sexta das 8h às 17h

Sábado das 8h às 12h

Realização

Espaço Cultural Correios e Brazilbizz

Patrocínio

Correios

Mais informações e agendamento de entrevistas

Brazilbizz Comunicação

Leo Porto e Maira Sales

brazilbizz@gmail.com

Tel. [85] 3067.7243 | [85] 8667-0007 | [85] 9937.2776

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mestre Júlio e a arte da fotopintura

A arte da fotopintura é tema de exposição que celebra o trabalho do artista cearense Júlio Santos. Considerado um mestre, ele esteve duas vezes no Recife nos últimos anos - uma a convite do SPA das Artes e outra da Semana de Fotografia do Recife. Desta vez, ele é o foco de exposição, lançamento de livro/DVD e workshop. As atividades valorizam e atualizam um ofício que faz parte da história da fotografia. E, se depender de Mestre Júlio, assim deve continuar.


Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A.Press
Composta por 25 retratos de pacientes do Hospital Ulysses Pernambucano (Tamarineira), a exposição Fotopintura Contemporânea é fruto do encontro entre Mestre Júlio e o fotógrafo recifense Luiz Santos em Juazeiro do Norte, interior do Ceará, há cinco anos. ´Estava no pior momento da minha vida`, diz Mestre Júlio, em conversa com o Diario. ´O estúdio tinha acabado e eu tinha quinze pessoas na oficina, alguns deles eram meninos da rua que eu ensinava a ser artista. Dois meses depois, estava participando do projeto na Tamarineira e minha vida mudou. Graças a isso, passei pelo que chamo de reencarnação`, diz o fotopintor, que hoje é referência nacional. Ano passado, a série de retratos integrou uma mostra na China e, neste ano, vai para Porto Alegre e Goiânia.

Diferente da técnica tradicional utilizada para recuperar a memória visual de entes queridos ou acrescentar cor a fotos monocromáticas, a exposição que será aberta hoje aponta para uma nova proposta: a partir de fotos atuais dos pacientes da Tamarineira, clicadas por Luiz Santos, Mestre Júlio acrescenta sua pintura. Assim, o que era um subproduto da fotografia se torna atração principal. ´Ele pinta a roupa e constrói personagens, respeitando nosso pacto de preservar a expressão do rosto e a luz`, explica Santos.

Este é a segunda parceria do que Luiz Santos chama de ´fotografia compartilhada`. A primeira foi com Tonho Ceará, um dos últimos fotógrafos lambe-lambe do Brasil. Produzido por Santos, ele foi o vencedor do Prêmio Porto Seguro de Fotografia em 2008. Com Mestre Julio,Luiz Santos continua um trabalho ligado à fotografia popular e artesanal. ´Enxerguei o valor do trabalho dele e lutei para que fosse reconhecido. Isso mobilizou as pessoas no Ceará e levou à publicação do livro`, conta Santos.

Fotopintura

Aprovado por editais públicos federais e municipais e realizado pelo coletivo Tempo de Imagem, de Fortaleza, o livro Júlio Santos - Mestre da fotopintura será distribuído gratuitamente para as 50 primeiras pessoas que visitarem a exposição. Ele traz uma entrevista com o fotopintor, uma amostra de seu trabalho e quatro imagens da nova série. ´A fotopintura sempre foi uma técnica popular de reencenar retratos, criar conjuntos e molduras ovaladas. Só que muitos pintores não eram bons. Mestre Júlio é um dos melhores`, avalia Santos.

Com 66 anos e mais de meio século de experiência (aos 12 anos, descobriu o estúdio do pai e desistiu de estudar no mosteiro de Garanhuns), Mestre Júlio aprendeu a usar o computador e hoje utiliza o photoshop para fazer seu artesanato digital. ´O resultado é o mesmo`, garante o artista, que por vezes abdica do lápis, raspadeira e faz retoques no computador. ´Mas precisa ter habilidade, usar e ter aprendido pela tecnologia antiga`.

O workshop abordará desde o uso do daguerreótipo e as diferentes técnicas de fotopintura. Depois, os participantes aplicam o conhecimento em suas próprias fotos. Mestre Júlio vê o futuro nas oficinas. ´Se a gente conseguir lapidar pessoas para o ramo, a fotopintura vai seguir todos os passos da fotografia. Hoje as pessoas tiram fotos no celular, mas fotografia não é somente apertar um botão, captar o momento e encher os HDs. Nosso intuito é secar os HDs e encher os estúdios com gente que veja a fotografia como arte`.

Serviço

Exposição Fotopintura Contemporânea
Quando: de hoje a 18 de março, das 14h às 17h.
Onde: Galeria Peligro de Pequenos
Formatos (Rua Ada Vieira, 112 - Casa Forte)
Informações: 3269-0822 / 8886-9961
Workshop de fotopintura
Quando: 3 e 4 de fevereiro
Preço: R$ 150

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Máquinas poéticas": exposição no Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro



Museu Casa do Pontal inaugura `Máquinas Poéticas`
O Museu Casa do Pontal apresenta, a partir de 05 de fevereiro, a exposição "Máquinas Poéticas", que promove o encontro da obra de Abraham Palatnik, pioneiro da arte cinética no Brasil, e dos artistas populares Adalton, Laurentino, Nhô Caboclo e Saúba, a partir da temática do movimento. A mostra inaugura uma série de diálogos entre a arte popular e a arte contemporânea no Museu Casa do Pontal. Com curadoria da antropóloga Angela Mascelani, diretora do Museu, e Afonso Henrique Costa, integrante do Conselho da instituição, "Máquinas Poéticas" ficará em exibição por quatro meses, e marca a reabertura de parte das galerias da exposição permanente restauradas, e o término de mais uma etapa do projeto de modernização e acessibilidade do Museu. A exposição é parte do plano de atividades da instituição, que tem como mantenedores a Vale e a Petrobras, e conta com o apoio do Ministério da Cultura e da Light. As ações de modernização são fruto da parceria com o BNDES, por meio do edital de preservação de acervos. No dia da inauguração, dia 05 de fevereiro, toda a programação será gratuita.


Obra de Saúba
“Máquinas poéticas” vai reunir seis trabalhos de Abraham Palatnik (Natal, 19 de fevereiro de 1928), das quais duas de seu acervo particular e as demais da Coleção Gilberto Chateaubriand/MAM Rio. Os trabalhos dos artistas Adalton Fernandes Lopes (1938 – 2005), Laurentino (1937 – 2009), Nhô Caboclo (? – 1976) e Saúba (1953) pertencem ao Museu Casa do Pontal, grande parte deles raros e na reserva técnica por conta do longo restauro, realizado nos últimos nove anos. Exemplos desse cuidadoso trabalho de restauro são a grande peça “Índio do Futuro” (“Índio do Xingu”), de Laurentino, que não é vista há 20 anos. Outro destaque é “A volta do cangaço”, de Saúba, que reproduz o tropel de cavalos com o ruído feito pelo motor da peça. Saúba costuma se referir as suas construções como “engenharias”, tal a complexidade de sua mecânica. A iluminação dessa obra projetará as sombras na parede, intensificando sua poética. As duas cinéticas de Nhô Caboclo, “Guerreiro equilibrista” e “Equilibrista com duas cabeças”, chamam a atenção pela sua delicadeza. O engenhoso mecanismo das obras dos artistas populares muitas vezes será aparente, para o público apreciar o trabalho realizado, como na impactante “Serra Pelada”, de Adalton.

Abraham Palatnik mostrará cinco “objetos cinéticos”, de 1965, 1966, 1984 e 1991, e um cinecromático, de 1960. Na entrevista que concedeu à Angela Mascelani e a Lucas Van de Beuque, que estará no catálogo da exposição, ele revela que seu interesse na arte popular se deve a sua esposa, Léa. “Ela descobria as coisas e eu vi que tem realmente uma vida aquilo, que não é só a arte abstrata, e eu acabei adquirindo algumas peças”, conta. “Foi Léa quem me induziu a gostar da arte popular, porque eu vi naquilo uma coisa espontânea, do mesmo jeito que eu também me sentia espontâneo nas coisas que fazia”.


Obra de Adalton
Angela Mascelani ressalta que a despeito das diferenças entre Palatnik e os artistas populares, “vários pontos os aproximam: a atração pelo lúdico, o gosto pela invenção, um genuíno espanto pela automação e a entrega ao paciente trabalho investigativo”. Ela observa também que “a tecnologia exerce papel singular nessa produção que, de alguma forma, conjuga arte e ciência”. “Esses artistas compartilham ainda de um mesmo período histórico em que ocorreram e ocorrem intensas mudanças tecnológicas no Brasil e no mundo”.

Saúba, o genial mamulengueiro pernambucano, entusiasmado com a exposição no Rio de Janeiro comentou: “Sou viajado no mundo! Não tenho parada!” Ao seu público costuma apresentar-se: “Eu não tenho leitura. Tenho inteligência. Quando chego digo: Sou o mestre Saúba, trago novidades que vocês nunca viram na vida!”

Modernização
Ao ser contemplado pelo edital de preservação de acervos, o Museu Casa do Pontal pôde realizar a modernização de seus espaços, duplicando a reserva técnica, com cobertura adequada para garantir sua impermeabilização e isolamento térmico. Também foi criado um elevador para cadeirantes, que ampliará a acessibilidade da instituição.

Programação de abertura e seminário
No dia da abertura uma mesa-redonda vai discutir a exposição, com a presença do artista Abraham Palatnik e os curadores da exposição “Máquinas poéticas”. Haverá ainda a apresentação da performática Orquestra Voadora. Em abril está previsto um seminário com a participação do artista Saúba, que mora em Pernambuco.


Exposição: Máquinas Poéticas – Abraham Palatnik e os artistas populares Adalton Lopes, Laurentino, Nhô Caboclo e Saúba
Abertura: 05 de fevereiro de 2011, sábado, a partir das 16h
Visitação: até 05 de junho de 2011
Terça a domingo, de 9h30 às 17h
Museu Casa do Pontal
Estrada do Pontal, 3.295, Recreio dos Bandeirantes
Telefone: (21) 2490.3278/ 2490.4013
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). O ingresso à exposição permanente do Museu dá acesso livre à galeria.
No dia da inauguração, dia 05 de fevereiro, toda a programação será gratuita.