sábado, 15 de outubro de 2011

Cordelteca na sede Academia de Letras de Crateús (CE)

Fonte: Diário do Nordeste, edição 15/10/2011

Crateús. Não faz muito tempo que as feiras livres nas cidades nordestinas eram repletas de bancas que vendiam folhetos, os conhecidos cordéis. O público leitor, em sua grande maioria, camponês, tinha o privilégio e o prazer de conhecer um pouco da história, de participar e vivenciar, por meio da leitura dos mais simples aos mais complexos episódios registrados na literatura popular. Aqui, neste Município, a presença dos cordelistas e violeiros nas feiras ou mesmo nas praças centrais da cidade ficaram escassa, bem como na maioria dos Municípios nordestinos. Há um, porém, que facilmente o apreciador da literatura popular encontra ao lado do Arco Nossa Senhora de Fátima, diariamente, mantendo viva a tradição popular.

É o cordelista Lucas Evangelista, que ali estaciona seu carro, abre o porta-malas, ou melhor, "porta cordéis" e premia o público que ali circula com recitação de seus cordéis e cantoria de viola. Agora, além da sua presença física naquela área da cidade, divulgando a literatura popular, o Município ganhou um espaço próprio para a exposição dos folhetins, que leva o nome do cordelista crateuense: a Cordelteca João Lucas Evangelista, instalada na sede da Academia de Letras de Crateús (ALC).

A Cordelteca é fruto da parceria da Academia de Letras de Crateús (ALC) e Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), cuja iniciativa foi possível por intermédio do escritor e poeta crateuense, Dideus Sales, membro das duas instituições. "O equipamento é importante para Crateús e toda a região e a homenagem mais do que justa, afinal Lucas Evangelista foi um bandeirante, rasgando o Brasil de norte a sul em uma Kombi, divulgando, promovendo e sobrevivendo da literatura de cordel", declarou na solenidade de instalação da biblioteca especializada no tema.

Alegria

"Grande significado para o sertão nordestino, pois, por meio do cordel, o povo nordestino se apoderou da cultura, das letras nas feiras, nas praças, é o patrimônio antológico do povo nordestino. É uma grande alegria acolher esse presente", expressou Elias de França, presidente da ALC.

Surgimento

A Literatura de Cordel surge na França, Itália e Galícia, cujo trabalho dos poetas nômades era semelhante ao jornal de hoje, noticiando os últimos acontecimentos e cantando poemas de aventuras e bravezas. Esse caráter informativo e jornalístico do cordel, ainda continua a existir, mesmo em tempos modernos.

Com a invenção da imprensa e as grandes descobertas marítimas, posteriormente, com as Revoluções Francesa e Industrial, burgueses e mercadores introduziram novas formas de sobrevivência e o cordel tomou novo rumo, inclusive, espalhando-se pela América, trazido pelo branco colonizador.

Assuntos

Acontecimentos históricos como o fenômeno do Cangaço, a atuação de Padre Cícero como líder religioso, a Coluna Prestes, a história de Canudos e o suicídio de Getúlio Vargas, entre outros, são alguns dos tantos assuntos tratados que foram registrados na memória do povo, por meio da oralidade e da literatura de cordel, às vezes com espírito humorístico ou fanático, mas sem fugir da verdade dos fatos.

Conhecer as páginas dos folhetos impressos em material simples é também desvendar e entender o curso da História do Brasil, principalmente, da região Nordeste.

Relembrando o surgimento da literatura de cordel, o presidente da ABLC, Gonçalo Ferreira remonta à Grécia Antiga. "A literatura de cordel é universal, começou com os manuscritos em folhas e adoração aos deuses na Grécia. Em nosso País, como modalidade escrita e impressa, o surgimento da literatura de cordel data da última metade do século XIX e estende-se até os dias atuais".

Ainda de acordo com ele, "mesmo com as dificuldades e os percalços de ordem econômica, encontramos no Brasil uma diversidade infinita de poetas populares, gente de todas as idades, que produz textos poéticos sobre os mais variados assuntos, empregando uma criatividade nunca vista e uma forma de compor e de se expressar muito particular. É uma honra abrir mais essa Cordelteca e homenagear esse poeta popular que admiro e sei muitos versos decorados", salientou.

FIQUE POR DENTRO
Mais equipamentos

Com acervo de mil títulos, a Cordelteca é a 4ª inaugurada no Ceará pela Academia Brasileira. Reriutaba (Cordelteca Riacho das Flores), Aracati (Cordelteca Dideus Sales) e Ipu (Cordelteca Gonçalo Ferreira da Silva) também possuem o equipamento especializado em literatura popular, para difundir e manter viva a arte popular, bem como facilitar o acesso dos estudantes e população para a realização de trabalhos e pesquisas sobre o tema. É a 14ª no País. A ABLC tem seus braços estendidos por Cordeltecas em cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Ceará.

MAIS INFORMAÇÕES
ALC - Rua do Instituto Santa Inês, 231 - Centro - Crateús
http://academiadeletrasdecrateus.blogspot.com/


Silvania Claudino
Repórter

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